“O reconhecimento e validação são sempre agradáveis”

“O reconhecimento e validação são sempre agradáveis”

Gabriel Morgado trabalha incansavelmente em prol da evolução da oftalmologia e procura constantemente as melhores soluções para ajudar os seus pacientes. Recentemente, foi distinguido nos EUA graças ao vídeo que apresentou sobre o dispositivo EyeWatch para tratamento do glaucoma, um “exemplo de engenharia extraordinário”.

Recentemente, foi-lhe atribuído o prémio de melhor vídeo na categoria de Cirurgia de Glaucoma, durante o Congresso da ASCRS, nos EUA. O que sente com esta distinção? 

O reconhecimento e a validação pelos pares são sempre agradáveis. É claro que, sendo o prémio que é, esse sentimento é sempre potencializado. Estar ao lado de outros premiados, pessoas que tanto contribuíram para a oftalmologia, muitas que admiro profissionalmente, é uma sensação incrível. Encaro este prémio com gratidão, com uma responsabilidade acrescida e como um estímulo adicional para fazer mais e melhor.

O vídeo incidia no implante do primeiro dispositivo de drenagem ajustável no glaucoma, o EyeWatch. Como descreve este dispositivo?  

Trata-se de um exemplo de engenharia extraordinário. A primeira vez que vi o dispositivo foi numa MasterClass do Prof. André Mermoud. É um dispositivo que encontra uma solução inteligente para responder a uma necessidade e um desejo de longa data de quem faz cirurgia de glaucoma: a possibilidade de fazer ajustar o fluxo de saída do humor aquoso e dessa forma controlar a pressão intraocular (PIO). Isto é especialmente importante no período pós-operatório inicial. Ao evitarmos flutuações da pressão intraocular e a ocorrência de hipotonia, estamos a aumentar a segurança da cirurgia de glaucoma para os doentes. Por exemplo, os doentes míopes ou hipermetropes, doentes vitrectomizados, glaucomas inflamatórios, que são grupos mais propensos à hipotonia ou em que a hipotonia mais rapidamente pode estar associada a complicações graves, são os que mais beneficiam com o EyeWatch. Com o objetivo de obtermos pressões intraoculares mais baixas, temos vindo a assistir a uma tendência, quer dos fabricantes a desenvolverem quer dos cirurgiões a optarem por soluções não valvuladas, para os dispositivos de drenagem posteriores. E aquilo que os estudos têm demonstrado é que se consegue obter uma PIO mais baixa, e com menos complicações, quando se combina o Eyewatch com dispositivos não valvulados versus dispositivos valvulados.

Que outras técnicas e tecnologias estão a ser usadas atualmente na cirurgia de glaucoma?  

Temos muitas opções – laser, trabeculectomia, esclerectomia profunda não penetrante, tubos, stents, procedimentos ciclodestrutivos, etc. -, o que por um lado é bom, mas, por outro, significa que nenhuma é boa o suficiente para ser generalizada, e sobrepôr-se às outras, como aconteceu no tratamento da catarata com o advento da facoemulsificaçao. Isto coloca uma responsabilidade acrescida no oftalmologista, que tem de saber escolher e adequar a melhor técnica, aquela que fornecerá a melhor taxa de sucesso a um doente específico. Hoje, mais do que nunca, a cirurgia de glaucoma é uma cirurgia personalizada. Vemos cada vez mais, em cirurgias de primeira linha, a opção por cirurgias menos invasivas e mais funcionais. Vemos também o target da cirurgia de glaucoma a ser cada vez mais o trabéculo/canal de Schlemm, que é aquilo que faz sentido, porque é onde se localiza o problema na maior parte dos casos. A canaloplastia é exemplo disso, e uma das técnicas com que já temos bastante experiência acumulada. Com o uso de um cateter atuamos a três níveis, trabéculo, canal e coletores, tentando restaurar a sua funcionalidade, e tudo isto de forma independente da conjuntiva. Esta cirurgia também evoluiu, passando de uma cirurgia ab externo para uma cirurgia ab interno, simplificando o procedimento e melhorando a recuperação do doente.

Leia a entrevista completa na OftalPro 62.

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