Caminhadas e Voluntariado: a nova prescrição de saúde
Marta Pimenta de Brito é psicóloga doutorada, especialista clínica e do trabalho, cientista clínica em multinacionais americanas e membro da Comissão de Saúde Mental do Health Parliament Portugal. O texto que se segue é da sua autoria:
“Nesta altura em que o Japão criou o Ministério da Solidão, para combater problemas causados pelo isolamento social como o suicídio, à semelhança do que o Reino Unido fez há três anos, muitos portugueses podem estar a questionar-se qual a situação em Portugal. Em Portugal, há algo que tem vindo a ser testado, e que já está muito avançado no Reino Unido a nível nacional, que poderá ser uma das soluções. Chama-se “Prescrição Social”. Esta prática pressupõe que a saúde e o bem-estar das pessoas sejam reconhecidas como algo dependente do estilo de vida e envolvimento pessoal, familiar, social e comunitário. Estes, na maioria dos casos, precisam de ser ensinados, promovidos, valorizados e motivados.
A Prescrição Social é um instrumento que permite aos profissionais nos cuidados de saúde primários (médicos de família, enfermeiros e psicólogos, entre outros) encaminharem os utentes para os serviços não clínicos existentes na sua comunidade, no sentido de um apoio à sua saúde e bem-estar. Estes serviços não clínicos, existentes na sua comunidade, podem ir desde um grupo de caminhadas a um grupo de voluntariado. Trata-se de uma referenciação comunitária pelo próprio sistema de cuidados de saúde primários.
À semelhança do que se começou a fazer há anos nas empresas, sob o chapéu de “responsabilidade social”, em que, por exemplo, dezenas de voluntários de uma empresa ajudam uma IPSS a ter um novo rosto através de trabalhos de reabilitação dos seus edifícios, podemos fazer o mesmo para os utentes do SNS sob o chapéu da prescrição social. Tendo em conta que cada vez mais pessoas sofrem de depressão e ansiedade, podemos, por exemplo, em regime de voluntariado melhorar a saúde mental da população ao mesmo tempo que se melhora o património nacional da saúde. A desculpa do “não há verba” ou “não podemos abrir concurso” não entraria aqui.
Mesmo em pleno confinamento como o que vivemos, a Prescrição Social é possível. Tudo pode passar para o online, mesmo o grupo de caminhadas e o grupo de voluntariado mencionados. Pois, o objetivo principal é apoiar a população nas suas necessidades emocionais, sociais e práticas. Benefícios como a motivação por contribuir para a sociedade, estrutura e rotina, autoconfiança, autoestima, participação social e criação de rede, e aprendizagem podem ser apenas alguns exemplos. Em resumo: a comunidade enquanto fonte de saúde”.