Até já

Até já

A cronista habitual da revista DentalPro, a médica dentista Cátia Íris Gonçalves, escreveu-nos o seu último texto, com a promessa de um dia voltar às nossas páginas:

Não sei por onde começar isto.
Não são vocês, sou eu; ou melhor, não sou eu, são as circunstâncias; mas que fique claro que vos amo até ao fim da minha vida.
Por terem confiado inteiramente em mim; por me terem concedido um espaço tão generoso, liberdade de expressão (que tanto está na moda mas que, na realidade, pouco se pratica), por me terem lido, aceite e apoiado.
Por toda a conversa de bastidores que guardo no coração.
Por uma revista que, por detrás, tem seres humanos cujas famílias conheço, cujas vidas admiro, cuja fidelidade aos meus escritos e amizade foi honrada durante todos estes anos de colaboração.
Por leitores que são como eu: humanos, pais, amigos, colegas, médicos dentistas.
Por vos ter feito companhia num ou noutro intervalo entre pacientes, no café, na sala de espera, na copa, durante o almoço.

Porque este ano tem sido profícuo em lições e aprendizagem, um ano que nos castigou com muitas perdas e presenteou com muitas conquistas, um ano que mudou a minha vida para sempre (e as vossas, imagino, também), um ano que me mostrou caminhos que nunca tinha imaginado e outros com os quais sempre sonhei.
Enquanto classe e enquanto seres humanos, sofremos, neste ano, um desafio histórico que marcará a nossa geração e que ainda não terminou.

Considerem-me uma das vossas, estamos juntos nesta caminhada de medos, dúvidas e lutas. Quando desmotivarem, tenham fé, no vosso amor pela profissão, nas qualidades humanas, no bem estar que somos capazes de proporcionar aos que nos rodeiam, no poder que está ao nosso alcance, que impacta nas nossas famílias, colaboradores, pacientes e colegas. Que saibamos dar murros na mesa, libertar uns calões, perdoar e ajudar o próximo e contribuir para um dia melhor de todos com quem nos cruzarmos.
Nesta etapa na qual fomos obrigados a parar, a cabeça e o coração tiveram tempo para se ouvir e entender; encontrámos novos desafios, desejos e ambições.

Não podemos segurar todos nas mãos – há que libertar os que voam dos que ainda estão a aprender a voar; há que nos tornarmos úteis onde mais podemos agregar valor; há que soltar lágrimas sem medo nem vergonha, de sentimento de missão cumprida, de esperança pelos tempos que virão, de gratidão pelos ensinamentos que precisávamos terem vindo sob as mais diversas formas – e chegou a altura de materializar tudo isso. Todas as metamorfoses acarretam algum sofrimento, mas servem para nos equipar melhor para uma nova era, na qual as virtudes antigas não eram úteis ou suficientes. É uma espécie de adaptação criada por nós mesmos, como consequência do futuro que nos atrevemos projectar.

Assim, deixo-vos esta última crónica, não vos querendo dizer que fecharei esta porta; quem sabe um dia a reabra. Neste momento, não poderei permanecer aqui; ventos de mudança levaram-me para onde sou mais precisa: tentarei converter a palavra em acção, sendo que a palavra é o primeiro degrau para fazer com que os sonhos e a realidade se concretizem.
Estarei por perto.

Obrigada colegas e profissionais ligados à medicina dentária, por me inspirarem,
Obrigada Henrique Pinho, por me teres incentivado à partilha da minha escrita,
Obrigada Fátima, pelo carinho, apoio, paciência, profissionalismo exemplar e amizade,
Obrigada Ricardo, pela carta branca e por ouvires as minhas opiniões e sonhos.
Até sempre, até já!

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